18.9.09

série cartazes







O atelier é a própria cidade, é nela que são traçados os percursos que me fornecem a matéria prima para minhas idéias. Pelotas cidade das ruas quadriculadas, simétricas, planas, de fáceis caminhadas, de infinitos cruzamentos, de edificações que seguem um ritmo e um padrão específico de uma época, a época dessa cidade, construção da cidade, seu apogeu.

Nos percursos que faço nessa cidade capturo, sua falência ou seu declínio, sua sobrevivência edificada em casa ocas, cerradas, lacradas. A reprodução do meu olhar, visões de um passado imponente e arrebatador mudo diante dos olhos cegos. A escolha surge com a idéia de perceber que elas são repetitivas e lidam com a ignorância dos olhares. Uma cidade com casas sem lar, sem lembranças , esquecidas do desenvolvimento. A captura se dá em um camerafone, sem escolher luz ou condições para garantir uma qualidade de imagem. O instrumento é apenas um meio, ferramenta de trabalho num atelier sem paredes. As fotos, as vezes não fornecem um ângulo bom, devido as condições da cidade, carros estacionados, canteiros e pedestres. As escolhas são intuitivas, devido aos percursos e a surpresa do objeto.
Mas a captura das imagens reproduz o olhar ignorado ou esquecido, as ruínas, as visões sem lembranças como intitulei. Nas caminhadas ha sempre um cruzamento, um lugar não explorado, uma casa ignorada, Meu olhar atento a cidade mostra uma cidade desconhecida, quase fantasma. O objetivo das fotos é mostrar essa cidade, dar visibilidade, comunicar, fazer as casas mudas falarem.

O trabalho acontece quando proponho colocar as imagens em circulação usando espaços e configurações referentes a informação e a comunicação. Acredito que isso é o que faz o trabalho. A utilização de outros espaços que não são os de arte para discutir a visuailidade, questionar a eficiência dos espaços e aproximação do espectador. Este é um segundo momento da série de trabalhos. Alguns dependem mais da circulação que outros, isso varia de acordo com o material usado. Anúncios e backlight tendem dar visualidade as casas da mesma forma que a publicidade divulga produtos e idéias. O espaço da publicidade é um espaço utilizado, assim como usado por outros artistas, afim de propor um deslocamento da arte e assim trabalhar com outras formas de receptividade.

Os múltiplos, através de impressões, como cartazes, postais, adesivos, dependem do espectador para fazer a rede de informações, desta forma ele é um participante, pois colabora para que as imagens entrem em circulação. Através de canais que são propostos nos trabalhos, o espectador colabora para que as imagens permaneçam em circulação e que desenvolvam sua permanência , tanto aos olhos como na imaginação do coletivo.




2 comentários:

  1. Oi Kelly, beleza?
    Adorei as fotos e a proposta do blog!
    Queria te indicar um trabalho bem bacana, que trata a temática das ruínas, talvez numa perspectiva diferente da tua... Mas acho que vale a pena olhar!
    Chama-se "Faço um filme da cidade sob a lente do meu olho: ensaios sobre fotografia, paisagem urbana e ruínas", de autoria de Beatriz Rodrigues Ferreira. A professora Maria Letícia, do Mestrado em Memória e Patrimônio da UFPel, participou da banca em 2007 e certamente consegues ter acesso a este trabalho com ela.
    Ah... E tem um capítulo inteiro que desenvolve o conceito de "Casas Mudas".
    Mira quando puderes...
    Um forte abraço e parabéns pelas fotos!
    Fabrício.

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  2. Oi Kelly, você é uma artista muito sensível, e uma pessoa maravilhosa. Gostei muito de conhecer você e seu trabalho. Me mande um e-mail para mantermos contato.

    grande abraço, Claudia

    loch.claudiaa@gmail.com

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